Cruzamentos Artísticos na Performance, por Tales Frey


"Contradizendo o cenário abarrotado de imagens e o ritmo frenético de sucessão de informações da atual sociedade de consumo e das suas tecnologias, desde 2006, quando concebi o trabalho “O Beijo” em parceria com a artista Cristine Ágape, eu tenho realizado uma série de ações pautadas no uso mínimo de recursos para que os elementos principais ganhem a máxima potencialidade simbólica em cada expressão artística originada. Ainda em contraste com o princípio do funcionamento da atualidade no que diz respeito ao excesso de informações, busco alargar o tempo na ativação de ações simples, propondo por vezes gestos insistentes, repetitivos e com objetivos claros e, algumas vezes, apresento o corpo quase inerte em um simples “modo de espera” (termo que tomo emprestado de André Lepecki fazendo menção a Ana Kisselgoff). No livro Tempo e Memória, de Katia Canton, há um trecho de uma fala do artista Bill Viola retirado de uma entrevista concedida a Marcello Dantas em seu documentário Processing the Signal (Nova York, 1989) onde o artista diz que o mundo nos empurra a fazermos “as coisas cada vez mais curtas”, sugerindo “mais informações em menos tempo”. A partir dessa noção, Bill Viola se propõe a fazer justamente o oposto: “mostrar cada vez menos informação em mais tempo”. Eu me identifico fortemente com essa noção de dilatação do tempo como uma tática para induzir a audiência a uma reflexão aguda estimulada por poucos signos propostos. À medida que emergem as questões e as possíveis conclusões por parte da audiência, com o tempo de ação arrastado, uma insistente imagem passa a impulsionar novas formas de interpretação sobre a mesma e, assim, os significados variam, confirmam-se e/ou se contradizem. Embora eu não tenha a intenção de encaixar o meu trabalho de performance ao vivo em uma categoria específica, eu o compreendo em parte como uma arte plástica em movimento e até mesmo como uma espécie de escultura cinética, uma vez que utilizo o corpo humano como suporte para criar relevos, definir formas e espaços, proporcionando tridimensionalidade a cada trabalho produzido, negando muitas vezes as relações com a frontalidade clássica das artes cênicas e com a matéria inerte das artes plásticas. De maneira oposta à ideia de movimento frenético, eu poderia nomear grande parte dos meus trabalhos como uma coreografia não necessariamente submissa ao imperativo da cinética. Pensando a minha prática artística de forma mais abrangente, enfatizo que a performance é o meio de expressão mais recorrente nas minhas proposições, mas tenho grande empenho em estabelecer a noção de performatividade em diversos meios, por exemplo, pelo recurso do vídeo, da fotografia, do objeto, da instalação, entre outros. Embora eu me utilize de nomenclaturas que cercam uma determinada expressão artística, tenho consciência de uma condição pós-midiática marcada pelo atravessamento de linguagens nas práticas atuais e, nesse sentido, suponho que cada expressão proposta por mim esteja sempre integrada com outras várias, sem muros, sem restrições categóricas e ortodoxas."

Tales Frey, artista transdisciplinar, professor universitário e colaborador deste Blogue. 

       Tapete Vermelho, criação performativa de Tales Frey



 

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